sexta-feira, 21 de outubro de 2011

PRONUNCIAMENTO OFICIAL - COMUNICADO À SOCIEDADE

MOVIMENTO ESTUDANTIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

PRONUNCIAMENTO OFICIAL – COMUNICADO À SOCIEDADE

#PARALISARPARAMOBILIZAR


O coletivo de estudantes Paralisar Para Mobilizar da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, ainda mobilizado, decide ser mister se posicionar acerca de três pontos que não parecem evidentes à Administração Central desta universidade e boa parcela de nossa comunidade que se posicionou nesses longos 41 (quarenta e um) dias de ocupação, e os dias que se seguiram, a saber: a conjuntura atual do movimento estudantil; o resgate do processo de ocupação e a discussão acerca do vídeo por nós exibido.

Para levar à discussão do movimento estudantil é necessário deixar explícito que este é auto-organizado, autônomo e se referencia nos movimentos sociais. Nossa luta se faz para uma educação pública, gratuita, de qualidade e referendada aos setores sociais historicamente excluídos e silenciados. Enquanto auto-organizados nos auto-identificamos como apartidários. Enquanto um coletivo, composto por indivíduos, respeitamos os/as companheiros/as que integram um partido político e não desqualificamos as perspectivas de Karl Marx, Lênin e Gramsci, bem como qualquer outro teórico que influencie nas mais variadas vertentes políticas. E deslegitimar o movimento dentro da perspectiva de partidos é no mínimo hipócrita, uma vez que o reitor desta universidade também é filiado a partido. E em nenhum momento esse movimento usou disto para deslegitimar ou mesmo questionar suas políticas administrativas. Por isso, exigimos respeito, justamente por entender e conseguir dissociar a universidade das políticas partidárias e não-partidárias.

Durante todo esse período, estávamos e estamos cientes de que as ações administrativas desta universidade são pautadas pela política governista para a educação. E o uso do discurso no qual o movimento é associado a partidos políticos com a intenção de deslegitimar nossa luta por defendermos a bandeira nacional dos 10% do PIB para a educação, nos colocando contra a política de precarização e descaso governamental com o bem público, não se justifica. É como se o modelo de expansão, onde se coloca estudantes nas universidades com a promessa de estruturá-la depois, não fosse passível de críticas.

Apontamos que toda a militância do ME confirma que estamos passando por um processo de reorganização e que seu corpus em grande maioria, sofre diariamente com um processo de descredibilidade e desmoralização. Similar tática é utilizada pela pequena burguesia ao defender que a partir da ascensão do trabalhador à presidência da república não há mais uma necessidade de luta de esquerda neste país. Fizemos e faremos uma leitura afora de moralismo e com rigor analítico para buscar objetividade nos nossos posicionamentos. Não nos é digno solicitar ou persuadir emotivamente quem quer que seja.

Colocamos que este movimento com as características já citadas legitima conjunturalmente e historicamente, com as especificidades da UFRB, o processo de ocupação. A formação e mobilização política é um processo, especialmente no ME, que é marcado pela pluralidade de concepções e classes.

Salientamos que partimos para um processo político considerado por muitos como radical, por não aguentar mais as condições estruturais às quais foi submetido o segmento estudantil, e especialmente os/as discentes oriundos/as das classes E, D e C que esta universidade de forma benéfica visa abarcar e que, infelizmente, não é capaz de assistir, devido à ausência de R.U. e número reduzido de vagas em residências em todos os Centros. Assim, estudantes insatisfeitos com a atual situação desta augusta universidade, se rebelaram e decidiram dar um basta ao longo período de promessas vãs e de descaso com problemas de extrema urgência, como a Acessibilidade nos prédios.

É importante lembrar que a paralisação não foi deflagrada pela vontade de um “pequeno grupo de estudantes”, ela se deu a partir da decisão da Assembleia Geral dos Estudantes, que contou com a presença de mais de 1000 discentes. Desde então, a ocupação contou com militantes orgânicos, que passaram a sofrer inúmeros ataques com o intuito de criminalizar e deslegitimar a luta por uma educação de qualidade.

Toda Comunidade Acadêmica tem conhecimento da tentativa de homicídio sofrida pelos militantes que estavam ocupando a reitoria, por parte de estudantes contrários à paralisação, incitados por notas da Administração Central, que deslegitimavam a mobilização do ME, nos tratando sempre como um pequeno grupo de estudantes. Além disso, fomos criminalizados diretamente por setores administrativos, chegando a nos associar à usuários de substancias psicoativas, ridicularizando a nossa pauta, expondo em redes sociais que reivindicávamos toneladas de maconha, ao mesmo tempo que criminalizava tais usuários, o que não é socialmente aceitável. É também possível consultar textos individuais de integrantes do tripé desta universidade nas classes de servidores técnicos-administrativos e docentes, no sentido de descredibilizar o Movimento Estudantil. Porém, mais uma vez, não encaramos esses posicionamentos enquanto posicionamentos das classes.

Não satisfeita, a reitoria criou um blog intitulado “fatos e dados”, hospedado na página oficial da UFRB, onde de forma caluniosa, manipuladora e irresponsável, fazendo uso de linguagem sensacionalista, acusa estudantes da Universidade de subtrair, ou seja, furtar equipamentos e divulga vídeos com recortes descontextualizados, na vil tentativa de nos tornar criminosos. Lembrando ainda, da posição do CONSUNI, nossa instância máxima deliberativa, que em momento algum se reuniu no sentido de discutir a nossa pauta, mas sim para pedir a retirada dos estudantes de maneira violenta, através da reintegração de posse.

Por fim, na mais recente tentativa de deturpar a ação do ME, a reitoria nos acusa de manipulação de vídeo e destruição da imagem pública desta universidade. O vídeo até agora exibido por nós é feito no que se chama de “corte seco”, trata-se de um processo de edição para operacionalizar a postagem do mesmo na internet. Focamos que independente do recorte, e deste recorte especificamente, a fala do reitor é nítida. Reafirmamos a nossa crença de que o discurso reproduzido pelo reitor teve um teor racista, no sentido que apresenta a cor e a origem do trabalhador/a da nossa Universidade como um “desafio maior” para a qualidade da atuação da UFRB. E esse argumento é inaceitável!

Não acreditamos que o fato da região onde se encontra nossa instituição ter sido esquecida durante séculos, em um processo histórico de marginalização conhecido por todos/as, torne os/as nossos/as funcionários/as inaptos/as a desempenhar qualquer função que seja, principalmente, se levarmos em consideração que todo nosso quadro de funcionários não entrou na Universidade por uma relação de compadrio, e sim através de concurso público, aberto a qualquer cidadão/ã deste país, independente de sua cor ou região, prova irrefutável e indiscutível de competência.

Não obstante, temos a convicção que em momento algum o Coletivo estudantil Paralisar Para Mobilizar UFRB acusou o professor Paulo Gabriel Soledade Nacif de ser racista. O Coletivo apenas apontou uma incoerência em seu discurso. Uma vez que temos ciência do significado de tal acusação. E entendemos que o racismo se estabelece em uma relação de poder, onde uma etnia subjuga outra. Desse modo, ratificamos o respeito à luta do povo preto contra a opressão hegemônica eurocêntrica racista, que infelizmente, ainda está cotidianamente presente em nosso país, imbricada até mesmo nos discursos de pessoas com larga escala de leitura e conhecimento de causa.

Consideramos ainda, que não destruímos a imagem pública da UFRB e tão pouco compactuamos com essa imprensa que nos ignorou durante 40 dias de ocupação, para agora fazer uso de maneira sensacionalista do vídeo por nós postado, se utilizando de seu conteúdo com claro intuito de descaracterizar as lutas sociais.

Contudo, nunca vamos corroborar com uma imagem idealista e propagandista que só existe em seus panfletos. Reiteramos que não produzimos as matérias veiculadas pelos meios de comunicação hegemônicos e os materiais postados pelo coletivo ao longo da ocupação são de veracidade inegável. Independente da imagem desta instituição de ensino, buscamos construir uma universidade realmente próxima das classes populares. O problema parece ser o método. Mas, não teríamos entrado em estado de paralisação se as classes C, D, e E fossem efetivamente assistidas, bem como, se a UFRB não sofresse com graves problemas estruturais, que inviabiliza uma formação verdadeiramente de qualidade.

Entendemos nossas críticas como construtivas, uma vez que apontamos as falhas e os problemas, no sentido de solucioná-los. O fato da Universidade ser jovem não justifica as deficiências constatadas. Os estudantes não podem esperar décadas para a implantação de uma universidade com real qualidade. Acreditamos SIM no merecimento e na competência do povo do recôncavo para ter e construir uma instituição digna, inclusiva, participativa, popular, com excelência de ensino e gestão. Pedimos respeito ao ME e o reconhecimento de que nossa pauta é legitima e urgente. A nossa luta se baseou, durante todo o processo, na busca de melhorias para a Universidade Federal DO RECÔNCAVO DA BAHIA.

Não buscamos uma guerra, buscamos soluções.

O Movimento Estudantil segue autônomo e em luta!

Recôncavo da Bahia, 21 de outubro de 2011.

Um comentário:

Arnaldo Ramos disse...

Muito bom, a luta e coletiva.O processo de negociaçao e baseado em dialogo em que haja um ganha ganha, enquanto uma parte deste proceso sentir-se alijada, havera conflitos em alguns momentos o clima de tensao entre as partes, sera mais intenso. Mas e o illusio como afirma Bourdieu, o jodo entre os campos.